Para quem é pai/mãe e para aqueles que o serão...
Texto de Affonso Romano de Sant'Anna
Há um período em que os pais vão ficando órfãos dos seus próprios filhos.Um dia sentam-se perto de você no terraço e dizem uma frase com tal maturidade que você sente que não pode mais trocar as fraldas daquela criatura.Crescem sem pedir licença à vida. Passou o tempo do ballet, do inglês,e do judô. Saíram do banco de trás e passaram para o volante de suas próprias vidas.
Deveríamos ter ido mais à cama deles ao anoitecer
para ouvir sua alma respirando.
Não os levamos suficientemente ao Playcenter, ao Shopping,
não lhes demos suficientes hambúrgueres e cocas..
Eles cresceram sem que esgotássemos neles
todo o nosso afeto.
Sim, havia as brigas dentro do carro,
a disputa pela janela e cantorias sem fim.
Depois chegou o tempo em que viajar com os pais
começou a ser um esforço, um sofrimento,
pois era impossível deixar a turma
e os primeiros namorados.
Os pais ficaram exilados dos filhos.
Tinham a solidão que sempre desejaram,
mas, de repente, morriam de saudades
daquelas "pestes".
Chega o momento em que só nos resta ficar de longe
torcendo e rezando muito
para que eles acertem nas escolhas em busca
de felicidade.
O jeito é esperar:
qualquer hora podem nos dar netos.O neto é a hora do carinho ocioso e estocado,não exercido nos próprios filhose que não pode morrer conosco.Por isso os avós são tão desmesurados e distribuem tão incontrolável carinho.Os netos são a última oportunidade de re-editar o nosso afeto. Por isso é necessário fazer alguma coisa a mais,
antes que eles cresçam.
“Aprendemos a ser filhos depois que somos pais...
Só aprendemos a ser pais depois que somos avós...